Causa da morte não foi divulgada; corpo será levado
para a cidade de Sobral, onde o cantor será enterrado. Ícone enigmático,
artista compôs clássicos como 'Velha roupa colorida' e 'Como nossos pais'.
Por
G1 CE
O cantor e
compositor cearense Belchior, de 70 anos, morreu na noite de sábado (29) em
Santa Cruz do Sul (RS). A família não divulgou a causa da morte. O corpo deve
ser levado para o Ceará, onde ocorrerá o sepultamento em Sobral, cidade natal
do artista, segundo a Secretaria de Cultura do Estado.
De acordo com
Lara Belchior, sobrinha do cantor, a família cogita realizar um primeiro
velório em Fortaleza, antes de levar o corpo a Sobral. A polícia isolou a área
em volta à casa onde morava o artista, em Santa Cruz do Sul, e confirmou que o
corpo ainda está lá.
O Governo do
Estado do Ceará confirmou a morte e decretou luto oficial de três dias. “Recebi
com profundo pesar a notícia da morte do cantor e compositor cearense
Belchior" disse em nota o governador Camilo Santana. "O povo cearense
enaltece sua história, agradece imensamente por tudo que fez e pelo legado que
deixa para a arte do nosso Ceará e do Brasil" (veja íntegra da nota abaixo).
O traslado do
corpo será feito pelo Governo do Ceará, que aguarda liberação das autoridades
gaúchas. O horário ainda não foi confirmado, mas a expectativa é que o corpo
seja levado ainda neste domingo (30).
A assessoria do
governo disse também que o chefe da Casa Militar do Ceará, coronel da Polícia
Militar Túlio Studart, entrou em contato com o chefe da Casa Militar do RS, e
que eles aguardam o resultado do laudo oficial.
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Belchior durante entrevista em São Paulo em 1986 (Foto: Antonio Lúcio/Agência Estado) |
Veja a íntegra
da nota oficial do Governo do Ceará:
"O
Governo do Ceará lamenta profundamente o falecimento do cantor e compositor
cearense, Belchior, aos 70 anos, na noite deste sábado, 29, na cidade de Santa
Cruz, no Rio Grande do Sul. E informa que está prestando todo o apoio à família,
inclusive providenciando o traslado do corpo para Sobral, sua cidade natal. O
governador Camilo Santana está decretando luto oficial de três dias. Belchior é
dono de uma trajetória artística da mais absoluta importância para a cultura do
Estado. Sua carreira o levou ao patamar de um dos maiores ícones da Música
Popular Brasileira, promovendo o nome do Ceará em todo o Brasil e no
mundo".
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Casa onde o cantor Belchior morava em Santa Cruz do Sul (RS), neste domingo. Vizinhos disseram que família do cantor é muito reservada e vivia bastante no local (Foto: Muriel Porfio/RBS TV) |
Nascido em 26
de outubro de 1946, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes foi um
dos ícones mais enigmáticos da música popular no Brasil, com quase 40 anos de
carreira.
Teve o primeiro
sucesso nos anos 70 ao lado do também cearense Fagner, com a faixa
"Mucuripe". Com o disco "Alucinação" (1976), lançou
clássicos como as faixas "Apenas um rapaz latino-americano",
"Velha roupa colorida" e "Como nossos pais", essa última
que se tornou conhecida na voz da cantora Elis Regina.
Paradeiro
Segundo o colunista
do G1, Mauro Ferreira, o cantor não tinha paradeiro certo
desde 2008. Em 2007, a família reclamou do sumiço do artista, que abandonou a
carreira; e nem mesmo seu produtor musical conseguia contato. A partir daí,
foram surgindo boatos a respeito do paradeiro do cantor.
Segundo
reportagem do Fantástico, Belchior abandonou ao menos dois carros, sem
explicação. Um deles, deixado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo,
acumulando milhares de reais em dívidas de estacionamento. Outro veículo, uma
Mercedes Benz do cantor, foi largado em um estacionamento também em São Paulo,
onde ele morava antes de ir para o Uruguai.
Belchior chegou
a ser procurado pela polícia em 2012 devido a uma dívida, à época, de US$ 15
mil em um hotel na cidade de Artigas, no Uruguai, por seis meses de diárias. No
fim daquele ano, em meio à polêmica, foi visto em Porto Alegre, mas não quis
gravar entrevista.
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Cantor e compositor Belchior em retrato de 1987 (Foto: Silvio Ricardo Ribeiro/Estadão Conteúdo) |
Trajetória
Na infância no
Ceará, Belchior estudou piano e música coral e trabalhou no rádio em sua cidade
natal. Seu pai tocava flauta e saxofone e sua mãe cantava em coro de igreja.
Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Também
chegou a estudar Medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar à
música.
Começou
apresentando-se em festivais pelo Nordeste. Fez parte do chamado Pessoal do
Ceará, que inclui artistas como Fagner, Ednardo, Rodger e Cirino. Depois do
sucesso de "Mucuripe", mudou-se para São Paulo, onde compôs trilhas
sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições em programas de
televisão.
Em 1974, lançou
seu primeiro disco, "A palo seco", cuja música título se tornou
sucesso nacional e ganhou versões ao longo da história, como a de Oswaldo
Montenegro e da banda Los Hermanos.
Outros artistas
também regravaram sucessos de Belchior, entre eles Roberto Carlos
("Mucuripe"), Erasmo Carlos ("Paralelas"), Engenheiros do
Hawaii ("Alucinação"), Wanderléa ("Paralelas") e Jair
Rodrigues ("Galos, noites e quintais"). Elis Regina foi uma de suas
maiores intérpretes: além de "Como nossos pais", gravou
"Mucuripe", "Apenas um rapaz latino-americano" e
"Velha roupa colorida".
Em 1982, o
cantor lançou "Paraíso", que tem participações dos àquela época ainda
jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo
Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983.
Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos lançados.
Também gravou
composições outros artistas, como "Romaria", de Renato Teixeira. No
disco "Vício elegante", de 1996, canta apenas músicas de colegas,
entre elas "Almanaque", de Chico Buarque, "Esquadros", de
Adriana Calcanhoto, e "O nome da cidade", de Caetano Veloso.
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